Sem título

“Existiam motivos
Mas eles estão quebrados
E escondidos em um vaso
Na mesa do canto da sala

E no outro acervo sentimental
Escondido em uma cesta de frutas
Perto da quina do balcão
No meio da cozinha
Ficam os motivos de me esconder das coisas da vida

As vezes eu ainda me escondo com eles
Fingindo ser pequena de novo
Pra ficar no buraco entre a cesta, o balcão e o forninho da parede
O mesmo lugar que eu me escondia no cabra-cega

A intuição se esconde na lavanderia
Atrás dos azulejos remendados
Que eu observo em segredo
As 2h da manhã
Enquanto tomo um chá 
E sinto o cheiro de roupa lavada 

O furacão que passa pelo meu quarto no domingo
E o mesmo que passa pela boca do meu estômago
E irmão do que passa na minha cabeça no fim do dia
E no meio
E no início

Enquanto as plantas da varanda ouvem segredos
E cochicham entre si
Sobre as cores no meu rosto
Que variaram entre roxo, vermelho e marrom
Mas não esconderam o olhar
De quem se vê no espelho
E se sente sozinho.”